Inteligência artificial deve ‘engolir’ funções, mas criar novas; veja como se aprimorar e não ficar estacionado na Nova Era
Você já deve ter ouvido falar no ChatGPT. A tecnologia mais alardeada do momento é um chatbot criado para simular conversas com capacidade de responder a uma quantidade colossal de perguntas sobre diferentes assuntos.
A nova ferramenta, desenvolvida pela empresa de pesquisa OpenAI, acendeu um alerta no mundo do trabalho: a inteligência artificial (IA) vai acabar com algumas funções desempenhadas por humanos?
Especialistas consultados salientam que algumas funções sob o guarda-chuva de algumas profissões poderão ser absorvidas pela tecnologia (veja mais abaixo).
“Ao mesmo tempo que pode tomar alguns empregos, o ChatGPT pode ser uma ferramenta poderosa para adiantar processos e liberar tempo para tarefas mais nichadas e que exijam mais do pensamento crítico e criativo das pessoas”, prevê Rebeca Toyama, especialista em estratégia de carreira.
Adaptação é, neste momento, a capacidade mais exigida com a chegada da nova tecnologia, diz Lucas Oggiam, recrutador e diretor executivo da consultoria PageGroup. “Mas isso não quer dizer que vão existir menos vagas de emprego. Significa que o modelo de trabalho de hoje vai se transformar em um outro”.
Novos caminhos
Lançado em 30 de novembro de 2022, o ChatGPT (“Generative Pre-Trained Transformer”) usa a inteligência artificial para “compreender” o que lhe é perguntado e elaborar uma resposta à solicitação baseado em um arcabouço enorme de dados. Essa capacidade faz com que a ferramenta ofereça uma troca similar ao diálogo humano, o que impressiona e, ao mesmo tempo, assusta.
O recurso está aberto para usuários em todo o mundo em uma espécie de teste, enquanto é revisado pela OpenAI. A Inteligência Artificial já ronda o nosso cotidiano em diferentes mecanismos. Exemplos:
- ela está nos algoritmos que mostram determinados filmes na Netflix;
- nas músicas sugeridas no Spotify;
- na interação com a Alexa, assistente pessoal da Amazon;
- e nos cadastros faciais, só para citar alguns.
O que fez, então, o ChatGPT ganhar protagonismo? O recurso democratizou o acesso da inteligência artificial ao público. “Ele permite que qualquer usuário o teste. Somado a isso, diferentemente de de outras IAs, o ChatGPT tem essa capacidade generativa: produz conteúdo à medida que você interage com ele”, diz Frank Meylan, sócio líder de tecnologia da KPMG.
“Já imaginávamos o potencial dessa aplicação, mas o grau de refinamento que a OpenAI trouxe foi impressionante. Esse período de interação com os usuários vai fazer com que a plataforma se desenvolva cada vez mais”, afirma Túlio Vieira, CTO e coordenador dos cursos de dados da Faculdade XP.
Segundo Vieira, o chatbot tem cerca de dez vezes mais dados do que a anterior da OpenAI: são 175 bilhões de parâmetros para que a tecnologia possa responder a diferentes questionamentos. A empresa também oferece o gerador de imagens realistas, o DALL-E, e o gerador de códigos, o Codex.
Diante do potencial, a Microsoft investiu bilhões de dólares na OpenAI e já lançou ferramentas premium no Teams baseadas em ChatGPT. A empresa de Bill Gates disse que pretende adicionar a tecnologia do ChatGPT a todos os seus produtos, preparando o terreno para mais concorrência com o Google.
Atividades afetadas
O mundo do trabalho foi sacudido por diferentes tecnologias. Lembram-se dos computadores? “Foi um reboliço, mas, duas décadas depois, o computador faz parte da vida de centenas de milhões de pessoas como um item essencial”, diz Toyama.
A especialista adverte: “Tudo é mais fácil de ser analisado olhando pelo retrovisor. No caso do ChatGPT, ainda não é possível dizer com certeza o que vai acontecer, situação que gera muita insegurança entre os profissionais”.
“Precisamos incorporar a tecnologia para saber o valor que ela trará, entendendo melhor os riscos e os efeitos dela no mercado de trabalho. Isso vai levar um tempo e, durante esse processo, as profissões vão se transformando. Algumas poderão realmente ser extintas, como o datilógrafo foi com a chegada do computador”, diz Meylan, da KPMG.
Os especialistas apontam as atividades que poderão ser mais impactadas pelo ChatGPT. Confira:
- revisão de contratos (na área jurídica);
- resumo de textos;
- criação de apresentações;
- elaboração de relatórios e releases;
- identificação de bugs em programação;
- atualização de códigos de programação;
- processo de compras e pagamentos em empresas;
- organização da cadeia de distribuição na área de SupplyChain.
Essas funções perpassam várias profissões, como direito, jornalismo, programação, magistério e até engenharia.
Para Toyama, os programadores afetados serão os que estão começando na carreira porque “algumas etapas da área serão automatizadas pela tecnologia”, diz.
Outro grupo que vai precisar se adaptar é o de professores em todos os níveis de ensino, segundo a especialista em carreira. Eles não poderão mais ser apenas “transferidores de conhecimento”.
“O crescimento do estudante como pessoa e profissional não será mais focado no arremesso de informações para que seja decorado. Precisamos de um ensino mais construtivista e que exija cada vez mais pensamento crítico e analítico do aluno”, avalia.
Limitações
A capacidade de raciocínio é crucial para diferenciar o profissional humano das máquinas. “O ChatGPT é um mecanismo de busca, seleção e resumo de conteúdo – e é muito bom. Mas a tomada de decisão é humana. O robô não tem um nível interpretativo”, explica Oggiam.
A tecnologia não entende as nuances da ética, dos cenários comparativos e das associações de contexto. Funciona conforme uma base de dados, sendo treinada dentro de um universo finito, com informações compiladas até 2021.
“Isso significa que tem limitações. Falta diversidade e capacidade de fomentar discussões, afinal, o recurso não traz análises, não tem empatia, nem diversidade. Há coisas que o ChatGPT ainda não endereça e, por isso, é preciso ter discernimento ao utilizá-lo”, afirma Vieira, da Faculdade XP.
Ainda segundo Vieira, a diversidade (gênero, raça e classe social) é o diferencial dos humanos em relação às máquinas. “Quanto mais pluralidade e trabalho em equipe melhor será a nossa capacidade de análise e argumentação em relação à Inteligência Artificial”, complementa.
Desafios
Segundo os especialistas consultados, do mesmo modo em que postos de trabalho poderão ser extintos, novas funções e cargos serão criados com o desenvolvimento de diferentes tecnologias.
Oggiam entende que a demanda futura dos RHs será por profissionais que saibam integrar suas habilidades com a Inteligência Artificial. Desse “casamento” surgirão, inclusive, novas funções.
“Mesmo com demissões em massa no setor de tecnologia, as empresas já estão de olho em profissionais que tenham habilidades do ‘futuro’, incluindo expertise dentro de inteligência artificial. Já tem uma demanda para o que se conhece hoje sobre o tema”, afirma o recrutador.
Fonte: InfoMoney