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Saúde Mental, o silêncio corporativo devorador

Matéria escrita por: Rebeca Toyama

Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que cala consente. A ausência de barulho pode não ser exatamente um sinal de normalidade. Pessoas depressivas que o digam… Senão vejamos: em 2020 o Brasil registrou 576 mil afastamentos do trabalho, motivados por crises de ansiedade e depressão. Trata-se de um número assustador, mesmo para quem sabe que o Brasil é o campeão, entre 11 países pesquisados na América Latina, em ansiedade e depressão, com mais de 60% das ocorrências neste ranking (dados do Ministério da Saúde). E como resolver a questão no âmbito corporativo, que afeta os trabalhadores no dia a dia? 
 
Não existe mágica, tampouco bulas na internet que se aplicam e resolvem os mais intrincados problemas em segundos. Para lidar com saúde é necessário ter expertise, porque com a vida não se brinca. “A ideia de um médico de que saúde é o ‘silêncio dos órgãos’ é conceito do século 19. Hoje é comprovado que o organismo saudável está em constante movimento, em todos os sentidos”, diz Marcelo Ferretti, professor de Psicologia e Ética na FGV (Fundação Getúlio Vargas). E acrescenta: “Pessoas são diferentes, por isso quando você faz um exame de glicose, por exemplo, não tem um número específico para o padrão de normalidade, mas uma faixa, já que cada corpo humano tem suas normas”. 
 
Logo, é preciso se partir do individual para o geral, com critérios. Assim como as pessoas, organizações não são idênticas. Estas necessitam de críticas (ainda que no sentido construtivo) e posicionamentos corretos. Uma companhia que faz trabalhos off shore, não tem atividade semelhante a uma instituição financeira, nem aquela de varejo que pratica o porta a porta se ocupa de um modelo similar a uma planta industrial. Por óbvio que pareça, seus trabalhadores projetam expectativas e anseios diferentes. Em nossos mais de 20 anos de atuação corporativa da ACI – Academia de Competências Integrativas, sabemos exatamente o que encontramos em cada um desses nichos, e como resolver os problemas aparentes e os latentes.  
 
Lidar com riscos de saúde mental, e trabalhistas, requer habilidade. Não podemos assistir calados ao exagerado número de 576 mil afastamentos e aposentadorias por invalidez decorrentes de doença mental (com ansiedade e depressão tendo maior prevalência). A estatística é da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, pasta então responsável pela área, em julho do ano passado, quando foi lançada a “Jornada Mente em Foco”, baseada no Movimento Mente em Foco, da Rede Brasil do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas). 
 
Sobre o movimento, cabe destacar que a ACI é signatária do Pacto Global e acompanha seus objetivos, com especial destaque ao ODS 8 (objetivo de desenvolvimento sustentável) trabalho descente e crescimento econômico do qual sou uma das porta-vozes no Programa Liderança de ImPacto da ONU. A questão do pertencimento, que tanto abordamos em palestras, foi destacada na jornada acima mencionada pela procuradora do Ministério Público do Trabalho, Adriane Araújo. “Sensação de pertencimento é ponto-chave para se ter saúde mental em dia em uma empresa”, ilustrou ela, acrescentando que pessoas não podem ser vistas como recursos humanos estáticos. Pessoas têm sentimentos, necessidades e percepções diferentes, pois são seres diversos. 
 
A produtividade de uma companhia deve ser balizada como indicador da maior importância, mas é necessário que, antes, se tenham as mentes em foco, para que o perturbador silêncio não vá corroendo estruturas pessoais e seus meios de trabalho. De acordo com a In Press, empresa idealizadora do Movimento Mente em Foco, 62% de um universo de trabalhadores por ela pesquisados, no país, nunca receberam suporte ou ouviram falar do assunto saúde mental no trabalho. 
 
E a sua organização, de que lado está? Dos 62% ou dos 38%? Pense nisto em seus próximos passos visando a produtividade sem perder o lado humano do negócio.

Por Rebeca Toyama MSc fundadora da ACI – Academia de Competências Integrativas, atua como mentora de carreira e palestrante sobre temas relacionados à liderança e saúde mental. Administradora e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP.

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